O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) acumulou em maio uma fila de aproximadamente 945 mil perícias médicas pendentes em todo o Brasil. Esse número reflete o volume de pedidos de benefícios que exigem avaliação presencial para liberação, como o auxílio por incapacidade temporária, aposentadoria por invalidez e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pessoas com deficiência.
O aumento dos pedidos começou a crescer desde o início de 2024, com maior impacto em regiões com estrutura médica insuficiente e poucas agendas disponíveis. A espera média para agendamento ultrapassa 80 dias em algumas capitais, segundo informações da própria Previdência.
Volume de pedidos e impacto nas concessões
O acúmulo de perícias compromete o andamento dos processos administrativos no INSS. Sem o laudo, o sistema não conclui a análise do requerimento. Isso atrasa o pagamento dos benefícios e afeta a renda de milhares de pessoas que não podem trabalhar por razões de saúde.
Dados do Ministério da Previdência
Dados do Ministério da Previdência apontam que mais de 600 mil dos requerimentos parados envolvem o auxílio por incapacidade temporária. Outros 150 mil pedidos dizem respeito à aposentadoria por invalidez. O restante concentra-se no BPC para pessoas com deficiência, que também precisa passar por avaliação médica e social.
As agências mais afetadas são as localizadas em regiões metropolitanas e capitais do Norte e Nordeste, onde o déficit de peritos é maior. Em muitos locais, não há médicos suficientes para atender à demanda.
Causas do represamento nas perícias médicas
O problema está ligado a fatores combinados. A primeira questão é a escassez de peritos. Muitos profissionais não aceitaram permanecer no serviço público após mudanças nas regras de remuneração e produtividade. Outro ponto é a limitação na contratação de novos servidores, o que dificulta a reposição das equipes.
Além disso, há uma sobrecarga estrutural. O número de pedidos cresce em ritmo superior à capacidade de resposta do sistema. Em 2025, o volume de requerimentos aumentou em razão de campanhas para acesso ao BPC, crescimento de pedidos por doenças ocupacionais e ampliação de direitos para trabalhadores intermitentes.
Com agências sobrecarregadas, os agendamentos ficam comprometidos. Os casos urgentes acabam passando por análise prioritária, o que posterga ainda mais os demais processos.
Medidas adotadas para enfrentar a fila
Para tentar reduzir os atrasos, o INSS iniciou mutirões e chamadas extras de peritos em várias capitais. A proposta inclui o pagamento de bônus por perícia realizada fora do horário normal de atendimento. Algumas unidades também estenderam o horário de funcionamento e priorizaram requerentes com maior tempo de espera.
Outra ação envolve a digitalização do atendimento. Em determinados casos, o INSS passou a aceitar atestados médicos enviados por meio digital para antecipar o benefício. Porém, essa alternativa ainda depende de validação por análise documental, o que não substitui a perícia presencial em situações de maior complexidade.
O órgão também conta com o auxílio das prefeituras por meio de acordos de cooperação técnica. Algumas cidades cedem espaço e apoio para instalação de unidades móveis de perícia, o que permite alcançar locais onde não há agências fixas.
Consequências diretas para os beneficiários
A demora para realização da perícia compromete o sustento de milhares de famílias. Muitos segurados sem renda ou afastados do trabalho ficam sem acesso ao benefício enquanto aguardam a análise. Situações de agravamento da condição de saúde se tornam frequentes por falta de suporte financeiro.
A recomendação oficial para quem aguarda a perícia é manter os dados atualizados no portal Meu INSS e acompanhar as notificações. Quem não comparecer no dia agendado perde a vaga e precisa reiniciar o processo.
Em casos extremos, é possível acionar a Defensoria Pública da União ou buscar atendimento com apoio jurídico gratuito para acelerar o processo.
Propostas para reestruturação do sistema
O Ministério da Previdência avalia a contratação de novos peritos, seja por concurso público, seja por meio de vínculos temporários. Outra sugestão em análise é a redistribuição de processos para regiões com menor volume de agendamentos, otimizando a fila nacional com base em disponibilidade.
Aumentar o uso de inteligência artificial para triagem inicial de casos simples também está na pauta do governo. A meta é reservar o atendimento presencial para situações com maior grau de análise, liberando os fluxos automatizados para solicitações de baixo risco.
Essas iniciativas dependem de orçamento e articulação entre o INSS e o Ministério da Gestão.