Você já consultou seu extrato do INSS e encontrou um desconto que não reconhecia? Se sim, saiba que não está sozinho. Uma auditoria revelou que 1,9 milhão de pedidos para cancelar descontos indevidos foram feitos entre janeiro de 2023 e maio de 2024. É um número grande e mais do que isso, é um sinal de que tem algo muito errado acontecendo.
Tem ideia de como isso aconteceu?
Entenda essa história
Tudo começou com a Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, que investiga descontos não autorizados nos benefícios previdenciários. O que os auditores descobriram é preocupante: muitas pessoas estavam tendo valores descontados para pagar mensalidades de associações sem nunca terem dado um “sim” para isso.
E claro, além do transtorno no bolso de quem depende do benefício para sobreviver, o sistema do INSS ficou ainda mais sobrecarregado. Cada pedido de cancelamento aumenta a fila de atendimento, que já é enorme.
Esse problema, além de afetar o bolso dos beneficiários, paralisou o atendimento no INSS, aumentando ainda mais as filas e atrasando processos que, muitas vezes, envolvem situações urgentes de saúde e sobrevivência.
Quem são os mais prejudicados?
A auditoria revelou que 90% dos pedidos de cancelamento foram feitos por pessoas que afirmam nunca ter autorizado tais descontos. Essa estatística deixa claro que o problema é sistêmico: não se trata de casos isolados, mas sim de uma falha generalizada no controle e na comunicação entre o INSS, os beneficiários e as entidades que realizam os descontos.
E o impacto vai além do transtorno pessoal. Resolver essa avalanche de solicitações vai exigir, segundo cálculos técnicos, o equivalente a 49.045 dias de trabalho de servidores, considerando uma carga horária padrão de 8 horas por dia. Ou seja, o prejuízo também é no tempo que poderia estar sendo usado para atender outros cidadãos.
Como esses descontos aconteceram?
Há algumas causas principais para esses descontos indevidos:
- Falta de consentimento real: Muitos beneficiários nunca autorizaram o desconto, mas ele apareceu no sistema mesmo assim.
- Processos administrativos falhos: Faltou rigor na validação das autorizações e na fiscalização do que estava sendo descontado.
- Acordos informais ou inexistentes: Em vários casos, não havia um contrato claro entre o INSS e as entidades que promoviam os descontos, o que gerou confusão e facilitou abusos.
É como deixar a porta da sua casa aberta e descobrir, depois, que alguém entrou e pegou algo, sem seu conhecimento e sem sua autorização.
E o impacto no bolso?
O relatório de auditoria também trouxe números sobre o prejuízo financeiro para o INSS: R$ 5,9 milhões em custos operacionais. Esse valor deveria ser coberto pelas associações, mas, como a maioria delas não tem contratos firmados diretamente com a Dataprev (empresa que processa os dados da Previdência), quem acabou pagando a conta foi o próprio INSS.
Para você ter uma ideia, a Dataprev cobra R$ 0,10 por cada consignação (desconto feito diretamente no benefício). Pode parecer pouco, mas multiplicado pelo volume de operações irregulares, o rombo se torna gigantesco.
O que o INSS diz sobre isso?
Procurado para comentar o caso, o INSS preferiu não se pronunciar sobre processos judiciais em andamento. Em nota oficial, destacou que, das 11 entidades sob investigação, apenas uma tinha um acordo formal assinado em 2023. E também fez questão de afirmar que esses problemas começaram em administrações anteriores.
Em outras palavras, o instituto admite a gravidade da situação, porém busca se dissociar da causa do problema.
E agora, o que pode melhorar?
Para evitar que histórias como essa se repitam, algumas soluções já estão sendo apontadas:
- Revisar e fortalecer os processos de autorização de descontos;
- Ser mais transparente com os beneficiários, explicando claramente qualquer desconto;
- Treinar melhor os servidores para lidar com essas situações de forma rápida e eficiente.
Diante desse cenário, é fundamental que os beneficiários se mantenham atentos aos seus extratos e questionem qualquer irregularidade. A transparência no sistema é uma conquista coletiva, e cada atitude de fiscalização individual contribui para fortalecer os direitos de todos.