O programa Pé-de-Meia, uma das principais iniciativas sociais do governo federal brasileiro, enfrenta um desafio que pode comprometer sua continuidade já no início de 2025. Um bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões, determinado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ameaça interromper os repasses financeiros aos estudantes beneficiários do programa ainda neste mês de janeiro. Esta situação preocupante foi revelada pela Advocacia-Geral da União (AGU) em um recurso protocolado junto ao TCU, alertando para as possíveis consequências dessa medida.
O Programa Pé-de-Meia e sua importância
O Pé-de-Meia é uma iniciativa governamental que visa oferecer suporte financeiro aos estudantes do ensino médio público inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Este programa se destaca como uma das principais bandeiras sociais da atual administração, tendo como objetivo principal incentivar a permanência e o desempenho escolar dos jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Funcionamento do programa
O programa funciona através de um sistema de incentivos financeiros mensais. Cada estudante beneficiário recebe um aporte de R$ 200. Este valor serve como um estímulo para que os alunos continuem frequentando as aulas e se dediquem aos estudos, reduzindo assim a evasão escolar e melhorando o aproveitamento acadêmico.
O bloqueio do Pé-de-Meia
O bloqueio de R$ 6 bilhões no fundo que financia o Pé-de-Meia foi determinado pelo Tribunal de Contas da União em 17 de janeiro de 2025. Esta decisão surgiu após uma representação do Ministério Público junto ao TCU, que apontava supostas irregularidades na execução do programa.
Análise técnica e decisão do TCU
Após uma análise detalhada pela área técnica do TCU, o ministro Augusto Nardes assinou uma medida cautelar determinando o bloqueio dos recursos. Esta decisão foi posteriormente referendada pelo plenário da Corte, solidificando a posição do Tribunal sobre a questão.
Razões para o bloqueio
O principal argumento apresentado pelo TCU para justificar o bloqueio é que o pagamento aos estudantes não poderia ser feito diretamente pelo fundo que financia o programa. Segundo o entendimento da Corte, esses recursos deveriam primeiramente passar pelo Tesouro Nacional e constar no Orçamento Geral da União, seguindo os trâmites regulares de execução orçamentária.
No documento apresentado na terça-feira (21), a AGU ressalta que “há risco real de que o programa não tenha continuidade em 2025” e que pode haver uma “interrupção imediata já em janeiro”.
Financiamento do programa e estrutura Atual
O Pé-de-Meia é financiado através do Fundo de Incentivo à Permanência no Ensino Médio (Fipem), que é administrado pela Caixa Econômica Federal. Este fundo recebe aportes de outras fontes, incluindo o Fundo Garantidor de Operações (FGO) e o Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo (Fgeduc).
Fluxo de recursos
Atualmente, os recursos provenientes do FGO e do Fgeduc são repassados diretamente para o Fipem, que por sua vez os utiliza para efetuar os pagamentos do Pé-de-Meia. É justamente este fluxo direto de recursos que o TCU questiona, argumentando que ele deveria passar pelo crivo do Orçamento da União.
Saldo atual e previsões
De acordo com informações fornecidas pela Caixa Econômica Federal, o saldo atual do fundo que custeia o programa, após o bloqueio imposto pelo TCU, seria suficiente apenas para cobrir as despesas de dezembro de 2024. O valor restante do saldo é estimado em aproximadamente R$ 762,7 milhões, uma quantia insuficiente para manter o programa em pleno funcionamento nos meses subsequentes.
Posicionamento da AGU e riscos iminentes
A Advocacia-Geral da União, em seu recurso ao TCU, expressou grande preocupação com as consequências do bloqueio orçamentário. A AGU alertou para dois riscos principais:
- A possibilidade real de que o programa não tenha continuidade em 2025.
- O risco de uma paralisação imediata dos pagamentos já no mês de janeiro de 2025.
Argumentos da AGU
A AGU argumenta que todos os aportes do programa foram devidamente aprovados pelo Congresso Nacional, contestando assim a alegação de irregularidade na execução orçamentária. Além disso, ressalta o impacto social negativo que uma interrupção abrupta do programa poderia causar.
Impacto nos beneficiários
Uma paralisação do Pé-de-Meia afetaria diretamente milhares de estudantes que dependem desse auxílio para manter-se na escola. A interrupção dos pagamentos poderia levar a um aumento na evasão escolar e comprometer o desempenho acadêmico de muitos jovens em situação de vulnerabilidade.
Reação do Ministério da Educação
O Ministério da Educação (MEC), quando questionado sobre a situação, informou que ainda não havia sido notificado formalmente da decisão do TCU.
Posicionamento oficial
Em declaração ao portal de notícias g1, o MEC reafirmou que todos os aportes do programa foram devidamente balizados pelo Congresso Nacional. Esta afirmação busca reforçar a legalidade e a legitimidade do processo de financiamento do Pé-de-Meia.
Próximos passos
O ministério deverá, nos próximos dias, avaliar detalhadamente a decisão do TCU e preparar uma resposta oficial. É provável que sejam buscadas alternativas para garantir a continuidade do programa, possivelmente através de negociações com o TCU ou de ajustes na estrutura de financiamento.