Os programas de transferência de renda têm sido uma medida importante do governo brasileiro para combater a desigualdade social e fornecer apoio financeiro às famílias em situação de vulnerabilidade. No entanto, um estudo inédito realizado pela Genial Investimentos revelou um efeito colateral desses programas: a retirada de aproximadamente 2 milhões de brasileiros do mercado de trabalho.
Impacto dos programas de transferência de renda
O estudo da Genial Investimentos buscou entender as características recentes de queda na taxa de participação da população economicamente ativa, ou seja, aquelas pessoas que estão empregadas ou em busca de trabalho. Os pesquisadores descobriram que essa redução coincidiu com o aumento histórico dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.
Antes da pandemia, o programa de transferência de renda representava, em média, 19,8% do salário mínimo. Durante uma crise, o auxílio emergencial elevou esse valor para 42,6% da renda mínima, e, posteriormente, foi substituído pelo auxílio Brasil, que chegou a representar 50% do salário mínimo.
O economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo, explica que existem estudos que mostram que programas de transferência de renda podem reduzir o incentivo dos trabalhadores para buscar novos empregos. No entanto, ele ressalta que esse efeito depende do volume da transferência. Quando o valor do benefício se aproxima da metade do salário mínimo, como ocorreu com o Bolsa Família, o incentivo de buscar trabalho diminuiu significativamente.
Desistência da força de trabalho
A pesquisa também revelou que, desde setembro de 2022, os menos escolarizados foram os mais afetados pela retirada do mercado de trabalho. Isso significa que aqueles com menor grau de instrução foram os que mais desistiram de procurar emprego devido à coleta do benefício do governo.
Segundo José Márcio, a decisão de não buscar trabalho para receber uma renda do governo é uma escolha racional dos beneficiários. Não se trata de preguiça, mas sim de avaliar o custo-benefício da situação. Se o custo de trabalhar for maior do que o benefício recebido, o trabalhador opta por não buscar uma ocupação.
Impacto no mercado de trabalho
A expansão dos programas de transferência de renda teve um impacto significativo no mercado de trabalho brasileiro. O estudo concluiu que o aumento do Bolsa Família, que passou de cerca de R$ 200 para aproximadamente R$ 600, revelou em uma queda adicional de 1,7 ponto percentual na taxa de desemprego em 2023. Isso significa que aproximadamente 2 milhões de pessoas deixaram de ser parte da população economicamente ativa.
Essa diferença pode explicar por que as diferenças para as taxas de desemprego em 2023 foram superestimadas. Os modelos previam um índice entre 8,5% e 9%, porém o índice registrado foi de 7,5% ao final do ano passado.
Além disso, os pesquisadores destacam outro fator que contribuiu para a resistência da busca pelo emprego: a queda do salário real em 2023 causada pela inflação. Embora os benefícios sociais tenham proporcionado um aumento significativo, as melhorias reais foram impactadas em qualidades, proporcionando incentivos para o retorno ao mercado de trabalho.
Essencial garantir a sustentabilidade do mercado de trabalho
Os programas de transferência de renda desempenham um papel importante na redução da desigualdade social e no apoio às famílias em situação de vulnerabilidade. No entanto, é necessário analisar e compreender os possíveis efeitos colaterais dessas políticas, como a retirada dos brasileiros do mercado de trabalho.
O estudo da Genial Investimentos revelou que o aumento dos benefícios do Bolsa Família contribuiu para a resistência de aproximadamente 2 milhões de pessoas em busca de ocupação. Essa desistência afetou especialmente os trabalhadores com menor grau de instrução.
É fundamental que as políticas de transferência de renda sejam avaliadas e ajustadas de forma para estimular a busca pelo emprego e o desenvolvimento da força de trabalho brasileira. O equilíbrio entre a proteção social e a promoção da autonomia financeira é essencial para garantir a sustentabilidade do mercado de trabalho e o crescimento econômico do país.